domingo, 18 de fevereiro de 2018

A solução é alugar a Polícia Militar?

O que temos assistido no Rio é a substituição do arroz com feijão da segurança pública, do dia-a-dia dos policiamentos, por operações policiais, o sobe-desce morro, pela teatralidade operacional, que tem rendimento político, eleitoral e midiático, mas pouco efeito no cotidiano.


Não existe crime organizado que não tenha chancela, conivência e conveniência de setores do governo, afinal, é através do dinheiro do crime que se faz caixa 2 de campanha e que crime é esse: mercadorias ilegais, que vai da banda larga às drogas.

Quem tem um governo criminoso, unidades de comando em todo país se chamam PCC, alguma coisa está sendo feita em São Paulo? Porque no Rio de Janeiro são franquias ocupacionais, mais fáceis de combater, uma vez que elas não tem unidade e disputam território.

Se é mesmo para combater o crime organizado, por que a Policia Civil foi intencionalmente sucateada? É a atividade discreta de investigação e inteligência que consegue desbaratar economias criminosas.

Aqui a gente faz polícia de espetáculo, cara, polícia ostentação. Transformaram a polícia militar em uma mercadoria, venderam o policial, alugaram e precarizaram para a iniciativa privada.



(Via GloboNews e Jacqueline Muniz - Departamento de Segurança Pública - UFF)

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Se os tubarões fossem homens

Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir resistentes caixas do mar para os peixes pequenos, com todos os tipos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto animais.

Eles cuidariam para que as caixas tivessem água sempre renovada, e adotariam todas as providências sanitárias cabíveis. Se por exemplo um peixe pequeno ferisse a barbatana, imediatamente ele faria uma atadura a fim que não morressem antes do tempo.

Para que os peixes pequenos não ficassem tristonhos, eles dariam cá e lá uma festa aquática, pois os peixes alegres tem gosto melhor que os tristonhos.

Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas. Nessas aulas os peixes pequenos aprenderiam como nadar para a garganta dos tubarões.

Eles aprenderiam, por exemplo a usar a geografia a fim de encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente por aí.


Aula principal seria naturalmente a formação moral dos peixes pequenos. Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixe pequeno, e que todos eles deveriam acreditar nos tubarões
Sobretudo quando esses dizem que velam pelo belo futuro dos peixes pequenos.

Se cismaria nos peixes pequenos que esse futuro só estaria garantido se aprendessem a obediência.

Antes de tudo os peixes pequenos deveriam guardar-se. Antes de qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista, e denunciaria imediatamente aos tubarões se qualquer deles manifestasse essas inclinações

Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam guerra entre sí a fim de conquistar caixas de peixes e peixes pequenos estrangeiros.

As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixes pequenos. Eles ensinariam os peixes pequenos que entre eles os peixes pequenos de outros tubarões existem gigantescas diferenças. Eles anunciariam que os peixes pequenos são reconhecidamente mudos, e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim impossível que entendam um ao outro.



Cada peixe pequeno que na guerra matasse alguns peixes pequenos inimigos, da outra língua silenciosos, seria condecorado com uma pequena ordem das algas e receberia o título de herói.

Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles, naturalmente também, uma arte.

Haveria belos quadros, nos quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas cores, e suas gargantas seriam representadas como inocentes parques de recreio, nos quais se poderia brincar magnificamente.

Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos peixes pequenos nadam entusiasmados para as gargantas dos tubarões.

A música seria tão bela, tão bela, que os peixes pequenos, sob seus acordes a orquestra na frente, entrariam em massa para as guelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais agradáveis pensamentos



Também haveria uma religião ali.

Se os tubarões fossem homens, ela ensinaria essa religião e só na barriga dos tubarões é que começaria verdadeiramente a vida.

Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria a igualdade que hoje existe entre os peixes pequenos, alguns deles obteriam cargos e seriam postos acima dos outros.

Os que fossem um pouco maiores poderiam inclusive comer os menores. Isso só seria agradável aos tubarões pois eles mesmos obteriam assim, mais constantemente, maiores bocados para devorar, e os peixes pequenos maiores que deteriam os cargos, valeriam pela ordem entre os peixes pequenos para que estes chegassem a ser professores, oficiais, engenheiro da construção de caixas, e assim por diante.

Conciso e considerável, só então haveria civilização no mar

se os tubarões fossem homens...

(via Bertold Brecht)