sábado, 18 de junho de 2016

O que o Rio não quer que o mundo veja

Conforme o Rio de Janeiro se prepara para receber o fluxo de visitantes internacionais das Olimpíadas 2016, constroem-se novas infraestruturas e sistemas de transporte para acomodar toda esta sobrecarga. Mas a cidade também passa por um outro grande projeto: esconder e remover pessoas pobres da visão dos espectadores estrangeiros. Estive no Rio para ver como a cidade está se transformando para abrir caminho para os Jogos Olímpicos:



Este tipo de planejamento urbano que gira em torno de esconder os pobres não é inédito no Rio. A cidade já sediou vários eventos internacionais nos últimos anos, e em cada caso, políticas de remoção semelhantes foram instituídas para manter os pobres da cidade fora das vistas dos visitantes.

O que torna possível esse tipo de planejamento urbano discriminatório é o que Orlando Santos, um planejador urbano com quem conversei, chamou de "Estado de Exceção". Santos explicou que quando megaeventos como a Copa do Mundo ou os Jogos Olímpicos chegam à cidade, o município consegue justificar decisões drásticas que em tempos normais jamais seriam aceitáveis.

O Rio vive há anos em um "estado de exceção" decorrente da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Isso resultou em uma série de abusos de direitos humanos e de propriedade entre os seus habitantes.



Dentre as violações estão mais de 77.000 cidadãos despejados à força desde 2009. Apesar de muitos terem o título legal de suas humildes residências, foram removidos para conjuntos habitacionais distantes do centro da cidade, e muitos levados contra a própria vontade.

Os bilhões de dólares públicos gastos em preparação para as Olimpíadas 2016 certamente trouxeram grandes benefícios urbanos como transportes e melhorias cosméticas. Mas, no final, a enorme quantia de dinheiro público que deveria beneficiar os pobres acabou, mais uma vez, escondendo-os de vista.

(Via Johnny Harris em VOX)