terça-feira, 27 de outubro de 2015

Um ENEM da direita para agradar à esquerda

O ENEM de 2015 foi elaborado no intuito de dificultar o desempenho dos alunos das camadas populares, pois, neste ano, para o candidato ter direito ao financiamento do FIES, seu desempenho no exame deve ser de 450 pontos e não ter zerado a redação.



Houve uma questão sobre um poema de Olavo Bilac em que foi pedido ao aluno reconhecer através do poema a ideologia ufanista da Primeira República. Imagino o aluno de uma escola estadual de SP, onde as cartilhas porcamente abordam o tema literário, como ele deve ter quebrado a cabeça até decidir chutar tal questão.



Outra questão, abordava o pensamento do esloveno Slavoj Zizek, um filósofo contemporâneo ainda descobrindo o fundamento e a proposta de sua filosofia que se delineia mais concretamente em seus últimos livros. Assim, duvido que Zizek esteja em alguma página de algum livro usado por alguma instituição de Ensino Médio deste país.

O leitor mais atento pode assinalar que a questão era interpretativa. Sim, há de se concordar, mas o leitor que saia pelas escolas do país a entrevistar os alunos e lhes pergunte o significado da palavra alteridade. Certamente se decepcionará com o desconhecimento da linguagem culta dominada apenas pela elite econômica e por uma elite intelectual.

Simone de Beauvoir, Weber, Sevcenko, Paulo Freire (este me surpreendeu, já que pedagogia não é disciplina do Ensino Médio) são autores pouco ou nunca abordados em escolas.



E eis que por conta de tais nomes, direita e esquerda se digladiam em torno de meros símbolos, simulando uma luta de classe no espaço de papel de uma prova. A direita patética ao ver em poucas questões uma doutrinação marxista em nomes que nem marxistas se diziam. E a esquerda sendo escrota a comemorar tais nomes nas questões, enquanto que o alunado pobre, que sabe que o acesso ao ensino superior é uma engrenagem de ascensão social na forma como nossa sociedade se estrutura, e, alheio a esses símbolos, se depara com uma prova totalmente excludente.



Ou seja, a esquerda, ou grande parte dela, se isentou de fazer a crítica correta, pautada na realidade e não em simulações, à uma prova feita para a direita, já que só alunos das escolas de elite tinham condições de fazer um exame daqueles, no intuito de agradar a esquerda, pois certamente a presença dos nome ligados à bandeiras progressistas foi utilizada como cortina de fumaça para que indivíduos de tal setor elogiem a prova em seu conteúdo, mas esquecendo, ou desprezando, que sua forma se pauta na ideologia meritocrática concretizando como instrumento de exclusão, dada a falência das escolas dos pobres deste país.



(via Trincheiras, Ana Silva e Anarcomiguxos)

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

O Pedágio Social e Racial do PMDB/RJ

"E a cidade, que tem braços abertos no cartão-postal, com os punhos fechados na vida real, se nega [a dar] oportunidades; mostra a face dura do mal" (Hebert Vianna, "Alagados", 1986)



A barbárie que está acontecendo nas praias da zona sul do Rio de Janeiro é o resultado de um modelo de cidade que ainda reproduz a divisão entre a casa grande e a senzala. Uma cidade que tem duas geografias que separam diferentes categorias de ser humano: a horizontal, que divide a cidade entre os bairros "nobres" do sul, da Barra e do Recreio, e as periferias esquecidas do norte suburbano e do faroeste, entregue às milícias, e a vertical, que separa o morro do asfalto.

Nessa cidade — nessas duas cidades que convivem numa só, as pessoas continuam sendo distinguidas em duas categorias por classe e cor. Todas as políticas públicas, inclusive (e fundamentalmente) a política de segurança, estão marcadas por essa distinção.



Semanas atrás, foi notícia algo que há muito tempo acontece: a Polícia Militar do estado identificava ônibus vindos de determinados bairros da periferia e bloqueava sua chegada às praias de Copacabana e Ipanema, praticando detenções de cidadãs e cidadãos que não estavam cometendo qualquer crime, pelo simples fato de serem jovens, pobres, negros e morarem em comunidades da zona norte, zona oeste e no subúrbio da cidade.

Por incrível que pareça, o óbvio foi polêmico: a justiça ordenou que as forças de segurança cumprissem o que a Constituição e a lei mandam e se abstivessem de prender cidadãos que não eram sequer suspeitos de terem cometido qualquer delito. Parece incrível, mas precisamos esclarecer: uma pessoa não pode ser presa por nada. Não existe na legislação brasileira a prisão "por via das dúvidas" e não há 'precogs' que denunciem crimes futuros. Ser preto, preta e/ou pobre não é delito.



O secretário de Segurança do governo Pezão, Mariano Beltrame, reagiu à óbvia decisão da justiça com argumentos absurdos: disse que a polícia ficava, assim, de mãos atadas para combater o crime e garantir a segurança — a segurança das pessoas brancas de classe média que moram na zona sul e dos turistas — e perguntou aos jornalistas "Como um jovem vai à praia sem dinheiro para comer?". A pergunta é escandalosa por vários motivos.



O representante do Estado está culpando os jovens que vão à praia sem dinheiro para comer por não terem dinheiro para comer, e ao mesmo tempo está dizendo que, por esse motivo, são bandidos. Se não têm dinheiro para comer, então, com certeza, vão roubar — é o que ele disse, em outras palavras.

Ou seja, o que o Estado deve fazer com as pessoas que não têm dinheiro para comer é prendê-las ou, no mínimo, estabelecer um Apartheid policiado pela PM que as mantenha longe das áreas de lazer que ele considera exclusivas daquelas e daqueles que têm, sim, dinheiro para comer. Façamos, então, uma fronteira militarizada entre o norte e o sul.



A Prefeitura, na mesma linha, estuda mudar o trajeto das linhas de ônibus, para que não seja mais possível chegar à zona sul da cidade desde determinados bairros da periferia sem pegar, no mínimo, duas conduções.




Mas a história não acaba por aí. Logo após a decisão judicial e a negligência da PM em relação à função que lhe cabe, como providência divina (e eu aviso que aqui estou sendo irônico, já que vivemos tempos de pouca interpretação de texto), arrastões feitos por jovens pobres e pretos ou quase pretos levaram pânico aos cariocas e turistas brancos ou quase brancos que frequentam as praias da zona sul.



Pânico que, não por acaso, ganhou amplo destaque no jornalismo da Globo se compararmos com o espaço que esse mesmo jornalismo reserva às ações violentas da PM nas periferias da cidades. Beltrame explicou, novamente: a polícia tem as mãos atadas.



Como se o impedimento constitucional de praticar prisões ilegais de pessoas que não estão cometendo qualquer crime e de barrar a chegada de pobres à zona sul da cidade tivesse alguma relação com o policiamento nas praias. Como se a justiça tivesse proibido a PM fazer seu trabalho onde ele tem que ser feito.

Não, secretário Beltrame: são duas coisas diferentes. A polícia pode sim garantir a segurança das pessoas nas praias e pode sim impedir os arrastões e deter os assaltantes em flagrante. O que não pode é deter jovens num ônibus sem motivo legal. Dá para perceber a diferença?



E essa inação do Estado, somada ao discurso fascista contra os direitos humanos e as garantias constitucionais, gerou as condições para o aparecimento de uma barbárie ainda pior: gangues armadas atacaram ônibus nas proximidades da praia, praticando a violência a céu aberto, incitando à guerra social: e essas gangues que atacaram os ônibus são compostas por jovens brancos de classe média que se organizaram pelas redes sociais e contaram com a complacência de PMs, que também aí não cumpriram sua função de dar segurança aos cidadãos pobres que estavam nos ônibus.



Enquanto o governo não cumpre seu papel — tanto nas políticas de segurança democrática quanto nas políticas econômicas e sociais que reduzam a desigualdade e a violência —, todas e todos nós sofremos as consequências: quem é assaltado na praia, quem é agredido violentamente por querer ter acesso às áreas de lazer da cidade e quem é impedido de circular livremente pela sua classe social ou sua cor. Uns e outros são, de diferentes formas, vítimas das consequências do modelo de cidade da casa grande e da senzala, que em pleno século XXI, ainda não conseguimos superar.



Fontes: Jean Wyllys, Linhas de Fuga, André Matheus,  Pedro Guilherme Freire, Renato AroeiraPasse Livre RJAndré Matheus, Mariachi,  Jornal da Gazeta,  Fora Eduardo PaesBlack Bloc RJPoder Negro - Black Power

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O crime de falar mal de político do PMDB

Quer falar mal de algum político pela internet? Então prepare-se para passar até seis anos na prisão em regime fechado. Três projetos de lei estão avançando em alta velocidade neste momento na Câmara dos Deputados para aumentar penas e até mesmo transformar em crime hediondo as ofensas em alguns casos. A autora do principal deles, o projeto de lei 1.589, de 2015, é a deputada Soraya Santos, do PMDB-RJ.



Se você já ficou em alerta, saiba que o buraco é ainda mais profundo. Se o projeto for aprovado, qualquer "autoridade competente" poderá ter acesso aos dados de qualquer internauta, sem maiores controles. E mais: poderá ter acesso também ao inteiro teor das comunicações dos usuários, sem a necessidade de ordem judicial prévia.

Sabe aquelas mensagens que estão na caixa de mensagens da sua rede social favorita? O governo ou a polícia passam ter acesso direto a elas, sem controle. Cria-se assim uma república da vigilância no Brasil. Todos os cidadãos são suspeitos, e o governo ou a polícia têm acesso a tudo que se diz na internet, mesmo em comunicações privadas.

Uma das principais conquistas do Marco Civil foi estabelecer a necessidade de ordem judicial prévia para a obtenção dos dados dos usuários na rede. Criou-se assim um sistema minimamente balanceado: os provedores e sites precisam guardar os dados, mas só podem entrega-los para fins de investigação se um juiz autorizar.

Essa é a regra em todos os países democráticos. Que agora está prestes a cair por terra no Brasil.



A coisa piora ainda mais. Ofensas hoje só são investigadas e processadas se houver "queixa" do ofendido. O projeto acaba com essa necessidade. Com isso, tanto a polícia quanto o Ministério Público poderão investigar qualquer ofensa proferida na internet sem a necessidade de queixa prévia. Em outras palavras, isso transforma as autoridades públicas em advogados privados de políticos que podem usar da sua influência para intimidar quem fala mal deles na rede.




Para completar, o projeto cria também um direito para que políticos possam solicitar ao poder judiciário que sejam imediatamente apagados da internet quaisquer conteúdos que os relacionem a fatos "difamatórios ou injuriosos".

Com isso, fica oficialmente autorizado o revisionismo histórico e a possibilidade de se suprimir a memória de fatos relevantes para o país. Em um momento em que os países democráticos latino-americanos lutam pela preservação de sua memória, o projeto cria um "direito ao esquecimento" do passado.

Em suma, é como se o diretor da agência de espionagem dos Estados Unidos, a NSA, tivesse se sentado à mesa com o ditador Kim Jong-Un, da Coreia do Norte, para redigirem juntos um projeto de lei para o Brasil. Em nome da Constituição que os elegeu, os deputados federais precisam parar essa maluquice.

JÁ ERA preservar direitos fundamentais na internet brasileira
JÁ É tentativas de cercear a liberdade de expressão on-line
JÁ VEM nova onda de projetos para tentar mudar o Marco Civil e controlar a rede



Fontes: Ronaldo Lemos em Folha de S. PauloEleições 2014, Pluricom e Citizenfour

domingo, 20 de setembro de 2015

Agência de notícias internacional afirma que sistema de esgoto do Rio é medieval

Pouco mais de um mês após a agência de notícias Associated Press divulgar uma análise da qualidade da água feita em locais de competições olímpicas no Rio, que teria encontrado níveis perigosamente altos de vírus e bactérias de esgoto humano, a agência de notícias voltou a criticar a cidade.



Dessa vez, o alvo é o sistema de saneamento básico.  Um especialista em saúde pública chama o sistema de esgoto no Rio de "medieval" e o compara ao existente em metrópoles mundiais como Londres ou Paris dos séculos 14 ou 15.



E o problema não é apenas do Rio. Menos da metade dos lares em todo o Brasil estão ligados à rede de esgoto, o que significa que grande parte dos resíduos gerados por cerca de 100 milhões de pessoas atravessa valas a céu aberto que corta bairros, sujando córregos e rios que, por sua vez contaminam lagos, lagoas, praias e baías.



O texto também diz que a falta de saneamento básico influi inclusive na futuro das crianças. Especialistas em saúde pública afirmam que as crianças expostas ao esgoto adoecem com mais freqüência, têm menos probabilidade de frequentar a escola regularmente e desenvolver plenamente intelectualmente e, finalmente, acabam ficando destinado a empregos que pagam menos ao daqueles que tem origens sócio-econômicas semelhantes, mas que cresceram com saneamento básico.



Fonte: IG e Rádio Globo

sábado, 19 de setembro de 2015

#BigBrotherNÃO: Cuidado com o PL Espião

Em meio à crise política que assola o País, tramita em alta velocidade na Câmara dos Deputados proposta que, se aprovada, vai ferir de morte a segurança das comunicações, afastando as garantias trazidas pelo Marco Civil da Internet e restringindo direitos fundamentais plasmados na Constituição.

É possível dizer, sem exagero, que o PL 215/2015, de autoria Hildo Rocha (PMDB/MA), com substitutivo proposto por Juscelino Filho (PRP/MA), bem como os projetos a ele apensados - de Soraya Santos (PMDB/RJ) e Expedito Netto (SD/RO), representam uma das mais graves ameaças à liberdade de expressão e à privacidade no Brasil desde a redemocratização.



O projeto afasta a exigência de ordem judicial para o acesso a dados pessoais, bem como ao próprio conteúdo das comunicações privadas na rede por autoridades. Insere no ordenamento jurídico brasileiro o polêmico "direito ao esquecimento", que pode levar à remoção definitiva da internet de informações cruciais para o debate político. E fere o devido processo legal e a proporcionalidade na fixação e aplicação de penas para crimes de calúnia, injúria e difamação, colocando-se na contramão dos debates internacionais sobre liberdade de expressão e privacidade.

De uma tacada só, as medidas alteram o Marco Civil, o Código Penal, o Código de Processo Penal e a Lei dos Crimes Hediondos, com impactos imprevisíveis para todo o ordenamento jurídico brasileiro.

Com tantas e tão radicais modificações, seria de se esperar que o PL 215/2015 tivesse sido submetido a numerosos debates públicos.

Pelo contrário, o projeto nem sequer passou pelas comissões que deveriam tê-lo examinado, como a de Ciência e Tecnologia e a de Direitos Humanos, e altera profundamente pontos do Marco Civil da Internet que foram objeto de ampla discussão dentro e fora do Congresso pouco tempo depois de a lei completar um ano de vigência.



Ainda que se possa argumentar que o projeto tenha apenas o objetivo de oferecer maior proteção às vítimas de ofensas à honra perpetradas na rede, as medidas propostas são claramente desproporcionais. Violam a liberdade de expressão e de imprensa em razão de seu caráter intimidatório, incentivando a autocensura e a paralisação nos processos de comunicação e debate públicos.

O projeto também fragiliza de maneira sem precedentes a privacidade dos cidadãos ao permitir o acesso direto, sem prévia análise do Judiciário, às comunicações privadas.

As propostas são flagrantemente inconstitucionais, e é motivo para escândalo que não estejam sequer sendo discutidas.



Cabe à sociedade indagar quem esse projeto favorece... Ao interesse público em geral ou àqueles que se valem das ameaças da lei para fugir do escrutínio público?

Cabe ressaltar que no Brasil o apelo a esse tipo de crime já tem sido amplamente utilizado por figuras públicas para restringir a expressão de vozes críticas online e offline, bem como o direito de informar e de ser informado.

Além disso, há um histórico não desconsiderável de utilização instrumental da defesa da honra para silenciar oposição política e o exercício das liberdades democráticas.

Caso aprovado esse obscuro projeto, cidadãos e veículos de comunicação verão da noite para o dia seus direitos fundamentais à liberdade de expressão e privacidade largamente restringidos.

Não se trata apenas de mais uma proposta de lei sobre a internet. Trata-se de um projeto que pode destruir os pilares da democracia.

FONTE: BrasilPost e Marcelo Saldanha

domingo, 16 de agosto de 2015

Anatel propõe cortar meio bilhão de dívida das teles com universalização

Depois de postergar o uso dos recursos por (por enquanto) cinco anos, a Agência Nacional de Telecomunicações pode dar uma outra boa notícia às concessionárias de telefonia: está à mesa uma proposta para cortar 40% do valor devido em metas de universalização. Um presente de mais de meio bilhão de reais. A conta de R$ 1,3 bilhão cairia para R$ 783 milhões.



São cerca de R$ 555 milhões que beneficiam principalmente a Oi. Ou assim prevê o relatório apresentado ao Conselho Diretor pelo conselheiro Marcelo Bechara, em seu último processo no colegiado – ele antecipou sua saída de novembro, quando se encerraria seu mandato, para esta sexta-feira, 14/8.

O valor é relativo ao saldo da troca de metas de PSTs por backhaul – dívida que remonta à determinação de as concessionárias implementarem em todo o país Postos de Serviço de Telecomunicações, espécie de telecentros com telefone, fax e acesso à internet, então via conexão discada.

Governo e operadoras concordaram que essa estrutura já nascia obsoleta e negociaram uma troca de metas: no lugar dos PSTs, Oi, Telefônica, Algar/CTBC e Sercomtel se comprometiam a implantar redes de transporte de dados em mais de 3,4 mil municípios e conectar todas as escolas públicas urbanas.



A troca foi vantajosa para as empresas e o combinado era haver um encontro de contas para reverter o saldo em novas metas de universalização. Isso devia acontecer já em 2010, mas houve forte grita do setor com os primeiros números apresentados à época. E só em 2014 a agência chegou a um valor: R$ 1,3 bilhão.

“A despeito de a Anatel ter chegado a um valor final para o saldo da troca de metas de PST por backhaul, ainda que com atraso de quatro anos em relação ao prazo inicialmente estabelecido, continua a haver postergação da aplicação dos recursos relativos ao saldo”, firmou o Tribunal de Contas da União há uma semana.

Diante de argumentos trazidos pela Oi, Bechara sustenta que o saldo deve ser revisto. Ele acredita a agência incluiu indevidamente na conta a suposta receita com o Banda Larga nas Escolas. “A receita das escolas não pode ser considerada no encontro de contas, visto ser receita fictícia, que nunca existiu”, afirmou.

Isso implica em que o saldo devido pela Oi deve cair de R$ 1,1 bilhão para R$ 604 milhões, um desconto de 45%. Por extensão, embora tenha desistido do apelo, o benefício deve ser estendido à Telefônica, embora nesse caso bem mais modesto: de R$ 186,8 milhões para R$ 179,9 milhões, ou R$ 6,9 milhões de diferença.



Fontes: Luís Osvaldo Grossmann em Convergência Digital e YesDigitalVideos

sexta-feira, 24 de julho de 2015

‪#‎Ibitinga: Os Leões do atraso

Para além do bafafá da reforma da fonte na praça do Coreto, o episódio e a mobilização da opinião pública pode ser útil para pensarmos a doença que deu neste sintoma. Um dos dilemas das prefeituras Brasil a fora é: o que priorizar em seus escassos orçamentos? Obras vistosas (de benefício duvidoso à população, mas de alta visibilidade) ou políticas públicas (de alto interesse público, mas de visibilidade não imediata).

A polêmica da pintura dos leões de 1917 é o esgotamento da “gestão” da maquiagem, uma marca cultural da política na cidade e talvez tão antiga quanto os próprios leões. Vale lembrar que uma das primeiras prioridades da atual gestão quando assumiu foi mudar toda a identidade visual que remetia à antiga gestão, o que consistia em criar novos logotipos, mudar as cores e, portanto pintar tudo de novo. Neste sentido a nova pintura do portal da cidade foi uma das primeiras ações. Substituindo uma maquiagem por outra. É a materialização da folclórica frase do imaginário político: mais importante do que fazer a obra é colocar a placa.
A escolha por este tipo de estratégia política pode ser explicada por dois grandes motivos: o primeiro é a agressividade do embate político na cidade (vale lembrar os episódios policiais da última disputa eleitoral e das desqualificações pessoais entre os candidatos), o que afasta as pessoas da política e do debate público. O segundo, e principal, é a combinação de uma gestão autoritária, que vira as costas para a população com uma estrutura de gestão municipal incapaz, atrasada e que bloqueia a inteligência. Felizmente Ibitinga, e ao contrário do que possa pensar nossa conformada população, não representa o universo das cidades brasileiras, ao menos em matéria de gestão, representa somente o grupo das atrasadas.
Com muito suor, mobilização social e incrementalismo a gestão pública no Brasil tem evoluído. Se casos como os de Ibitinga ainda existem também é verdade que prefeituras de todas as partes do Brasil tem sido verdadeiros laboratórios de inovação em gestão. Muitos programas bem sucedidos no governo estadual e no federal foram desenvolvidos a partir de experiências construídas em governos municipais. Poderia aqui enumerar dezenas e até centenas de experiências bem sucedidas em todas as áreas de governo e que tem nos libertado de mecanismos perversos como: falta de transparência, ausência de canais de participação social, desarticulação entre governos municipais, estaduais e federal, incapacidade administrativa, desperdício de talentos, parcerias não exercidas, gastos ineficientes, desarticulação entre as políticas públicas, estruturas que não engendram a inovação, etc. Vencer todos estes obstáculos tem se mostrado tanto possível quanto trabalhoso e que prescinde de vontade e humildade política.
Ao contrário de como faz e fez no caso da reforma da praça a prefeitura municipal deveria romper a arrogância com as chamadas “pessoas de fora da cidade”, poderia, pois, aprender com elas e abrir a cidade para ventos mais frescos e modernos. Uma gestão municipal moderna conta com inúmeros mecanismos e estratégias para a solução dos problemas. Procura construir capacidades técnicas, internamente, ao mesmo tempo em que busca coordenar e envolver cidadãos e organizações da sociedade, voltando-se para fora dos escritórios da prefeitura.
Proponho um exercício prático de gestão pública moderna partindo do próprio caso da reforma da praça. Temos um problema: uma praça degradada e com aparente deterioração do patrimônio artístico. Partindo do esforço em vencer a tentação de solução fácil de jogar uma tinta e fazer uma reforma como quem reforma uma casa alugada sem preocupação e só por obrigação, temos que identificar potenciais à nossa volta.
1 – temos um curso superior em Turismo na faculdade do próprio município, com professores, alunos e muitos egressos;
2 – existem muitas experiências interessantes para melhorar a apropriação/utilização do espaço público pela população, que vão desde soluções mais amplas como o Orçamento Participativo (onde a população escolhe coletivamente quais obras lhe são mais necessárias e urgentes) até mecanismos de autogestão de espaços públicos, onde os moradores auxiliam o poder público a cuidar dos espaços e melhorá-los;
3 – há muitos programas federais e estaduais para destinar recursos a projetos de conservação do patrimônio artístico e cultural;
4 – há todo um conjunto de leis que estimulam que empresas destinem recursos para projetos de interesse cultural, abatendo de seus impostos a pagar.
Envolver os profissionais da área de turismo seguramente permitiria a criação de um bom projeto técnico para a reforma. Criar mecanismos de participação social faz com que as pessoas apropriem-se mais das decisões e dos espaços, sentindo-se parte e mobilizando-se para dá-lo vida (não é tinta que dá vida é gente com seus sentimentos e ações). Finalmente, ter bons projetos e buscar fontes adicionais de financiamento para eles faz com que o executivo municipal consiga economizar escassos recursos, que sempre faltam para educação, saúde, habitação, etc. Por exemplo, só o que a prefeitura municipal gastou para reformar uma das praças da cidade é suficiente para construir 2 creches ou 12 casas populares (ou até mesmo 75 casas populares se usar os recursos como contrapartida para aderir ao Minha Casa Minha Vida). Aliás, até o governo estadual (do PSDB) e o governo federal (do PT) já consolidaram parceria dentro do Programa Minha Casa Minha Vida – que apesar de ser um programa federal, no estado de São Paulo o governo estadual coloca voluntariamente mais 10 mil reais para cada contrato assinado.
Como se vê o mundo lá fora, felizmente, é muito menos cinza, abramos nossas janelas e portas, como o caipira que apesar de ressabiado sabe receber uma visita como poucos.

terça-feira, 19 de maio de 2015

PSDB quer cadeia para Professores!

Agora os políticos, além de não proporcionarem educação de qualidade, querem amordaçar os professores que ensinam os alunos a pensar sob o pretexto de que são "doutrinadores ideológicos"! Querem formar cordeirinhos, incapazes de interpretar o mundo onde vivemos e reivindicar o que quer que seja!

Já está em tramitação na Câmara dos Deputados o PL 1411/2015, de Rogério Marinho (PSDB/RN), que transforma em crime toda prática que condicione o estudante brasileiro a adotar posicionamento politico, partidário ou ideológico, com pena de detenção de três meses a um ano e multa.

O deputado deveria esta preocupado em garantir melhores condições para os professores, salários mais dignos para essa nobre profissão. Deveria era se esconder por ser de um partido que historicamente sempre renegou os professores. Deveria era está indignado com o que o Beto Richa do PSDB fez com os professores, mandando a PM baixar o cacete.



Sugiro ao deputado a seguinte lei "A partir de hoje o deputado passa a ser remunerado com salário de professor e o Professor passa a ganhar como deputado".




Paulo Freire é o doutrinador?

“Doutrinador” é aquele que prega, instrui, incute em alguém uma crença, um ponto de vista ou um princípio sectário, ou seja, realiza uma transferência de conteúdos, de si para o objeto de sua doutrinação. Nada está mais distante do pensamento pedagógico de Paulo Freire do que isto. Ele repele com contundência qualquer procedimento doutrinador: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”, escreveu em Pedagogia da autonomia.

Suas recomendações sobre os saberes necessários à prática educativa são claras. Desde logo, e sempre, a prática: “A educação como prática da liberdade, ao contrário daquela que é prática da dominação, implica na negação do homem abstrato, isolado, solto, desligado do mundo, assim como também na negação do mundo como uma realidade ausente de homens”, ensinou em Pedagogia do oprimido. O homem em suas relações com o mundo.

Este é o pressuposto de toda compreensão e de toda ação educativa capaz de promover a autonomia e a libertação das pessoas. Não é que o mundo seja necessariamente uma prisão. Ele até pode ser, e muitas vezes é. O que importa aqui é pôr o homem em seu contexto, rompendo o aparente curso natural das coisas e identificando o conjunto de suas relações. Colocadas em perspectiva, elas se reconfiguram e geram conhecimento histórico sobre si e sobre o mundo, para si e para o mundo."



(via Blog do BG, Meu Professor de História e ANPUH)

terça-feira, 7 de abril de 2015

Charles Darwin e a escravidão no Brasil




Ao chegar no Brasil e ver de perto a escravidão, Darwin escreveu esse relato:

“Perto do Rio de Janeiro, minha vizinha da frente era uma velha senhora que tinha umas tarraxas com que esmagava os dedos de suas escravas. Em uma casa onde estive antes, um jovem criado mulato era, todos os dias e a todo momento, insultado, golpeado e perseguido com um furor capaz de desencorajar até o mais inferior dos animais. Vi como um garotinho de seis ou sete anos de idade foi golpeado na cabeça com um chicote (antes que eu pudesse intervir) porque me havia servido um copo de água um pouco turva… E essas são coisas feitas por homens que afirmam amar ao próximo como a si mesmos, que acreditam em Deus, e que rezam para que Sua vontade seja feita na terra! O sangue ferve em nossas veias e nosso coração bate mais forte, ao pensarmos que nós, ingleses, e nossos descendentes americanos, com seu jactancioso grito em favor da liberdade, fomos e somos culpados desse enorme crime.”

Charles Darwin, A Viagem do Beagle

 (via Robério Correia)

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Nova York amanhece com estátua misteriosa em homenagem a Edward Snowden

Nova York amanheceu nesta segunda-feira (6) com um novo e misterioso monumento, depois que um grupo de artistas anônimos instalou ilegalmente, na madrugada, um busto de 45 quilos em homenagem a Edward Snowden em um parque do Brooklyn.



Pouco antes do amanhecer, três artistas arrastaram um busto de cerca de 1,20 metro de altura através do Parque Fort Greene, no bairro nova-iorquino do Brooklyn. Enquanto o sol se levantava, eles montaram a estátua em cima de um pilar que fazia parte de um antigo memorial à Guerra de Independência dos EUA – o Monumento Prison Ship Martyrs, originalmente erguido para lembrar os combatentes que morreram a bordo de navios-prisões durante a Revolução Americana.

Falando à revista Animal, os responsáveis pelo busto de Snowden afirmaram que o ato de hoje teve como objetivo “atualizar” o monumento de guerra para “dar destaque àqueles que sacrificam sua segurança na luta contra as tiranias dos tempos modernos".



Longe de encararem o ato como profanação, os artistas veem a sua obra como uma forma de homenagear as liberdades pelas quais se lutou na Guerra de Independência norte-americana.

"Seria uma desonra para os que foram aqui imortalizados não elogiar quem protege os ideais pelos quais eles lutaram, como o fez Edward Snowden trazendo à luz os programas de vigilância da NSA que violaram a Quarta Emenda [à Constituição dos EUA, que se refere à proteção individual contra buscas e apreensões arbitrárias]”.

O projeto custou milhares de dólares, tirados do bolso dos próprios artistas, e levou seis meses para ser criado. Apesar do esforço, os três se resignaram ao fato de que a obra seria provavelmente destruída pelas autoridades.



De fato, a estátua já foi coberta pela polícia. No entanto, os artistas disseram ter um molde pronto para fabricar outros bustos, de modo que os habitantes e turistas de Nova York ainda poderão ter a chance de ver o monumento ao ex-agente.

Durante seu tempo como funcionário da Agência de Segurança Nacional norte-americana, Snowden revelou a extensão massiva do aparelho governamental de espionagem doméstica. Ele reside atualmente na Rússia, que o acolheu em 2013 para impedir sua extradição para os EUA.

Via sputnik e mashable

domingo, 5 de abril de 2015

PMs ou Capitães do Mato?


A população em luto sai às ruas para protestar diante do assassinato de uma criança de 10 anos, baleada na cabeça por um PM quando estava sentada em frente a sua casa. E, então, o que faz a polícia? Pede desculpas? Prende o autor do disparo?



Não. Monta uma operação de guerra contra o povo. Vai até o Complexo do Alemão e joga bombas de gás nas pessoas e gás pimenta no rosto de homens, mulheres e crianças que protestavam pacificamente. Os que fazem isso não são policiais, são "capitães do mato". Os que dirigem estes mateiros são ainda piores. A propósito, há governo no Rio? (via Marcos Rolim)



A mãe de Eduardo de Jesus Ferreira, Terezinha de Jesus, afirmou que foi ameaçada por um PM logo após a morte da criança. Em desespero, ela disse ao policial: "Vocês mataram meu filho". E em seguida, ouviu do mesmo agente:

— 'Já que eu matei o filho, a gente também pode matar a mãe.' E apontou a arma para mim. (via R7)

"Quando fui socorrer meu filho, o PM falou que eu era vagabundo que nem ele. Falou que matou um vagabundo que era filho de um vagabundo", declarou o ajudante de pedreiro. "Sou trabalhador, trabalho de carteira assinada", completou. (via O dia)



Caso a visão de tanques circulando nas ruas ou de corpos estirados no chão não seja simbólica o suficiente, posso repetir objetivamente: estamos em guerra. Resta saber quem ganha com a invisibilização dessa guerra e quem é o nosso real inimigo.



É claro que o crime existe. É claro que criminosos existem. Mas o Estado continua trabalhando para esconder as estruturas de governo que produzem criminosos. Não se debate a igualdade de direitos e oportunidades. Não se debate o fim da Polícia Militar, como foi recomendado pela ONU.



Mas soluções superficiais de contenção da violência: redução da maioridade penal, aumento do aparato policial, “pacificação”. Tudo para o conforto e a segurança da classe dominante. (via feminismo à esquerda)



Quem está organizando o tráfico no Rio?
Quem são os comandos?
Porque a PM não diz quem está procurando?

Porque o combate ao tráfico não gera UMA única prisão de um chefe?

Porque você não percebe que, com tantas perguntas sem resposta, podemos estar diante de uma situação em que a PM está operando o tráfico, como gerente de alguém, extremamente poderoso na estrutura do Estado? (via Anderson França Dinho)

As UPPs são projeto de dominação política e econômica da cidade. O local onde foram instaladas e a maneira como são geridas demonstram que elas são instrumentos de uma política econômica de venda e expropriação da cidade. (via Universidade Nômade)

O que aconteceu nos casos de Amarildo e DG — e agora no caso do Eduardo — não é diferente do que acontece com milhares de outras vítimas da guerra às drogas, assassinados por uma polícia militar treinada para enxergar favelados, pobres e pretos como inimigos desprovido de direitos a serem abatidos.



Estão circulando, nas redes sociais e Whatsapp, fotos falsas de um garoto supostamente armado (não tem como saber as circunstâncias em que a fotos foram tiradas) que não é Eduardo, numa tentativa desonesta e perversa de justificar sua morte e, ao mesmo tempo, fortalecer os discursos demagógicos e irresponsáveis que defendem a redução da maioridade penal.



Tempos sombrios, nos quais precisamos muito, todos nós, fazer um grande esforço para enfrentar, com muita vocação pedagógica, esses discursos que se espalham e contaminam o senso comum, empurrando-nos para um precipício que pode nos levar a cair de novo em algumas das piores tragédias da nossa história. (via Jean Wyllys)



Dos 82 assassinatos de crianças e adolescentes de até 14 anos cometidos pela polícia no Brasil em dez anos, 50 ocorreram no Rio. O estado responde por 60% dos casos registrados.  (via O Globo)



segunda-feira, 2 de março de 2015

De Allende à Dilma: locaute é golpe!


Sempre que observamos um movimento paredista de caminhoneiros, a triste lembrança do Chile volta do passado. Na época, insuflados por uma ação da Agência Norte-americana de Inteligência, a CIA, um grupo de caminhoneiros realizou uma grande paralisação no país visando a conferir legitimidade ao golpe militar que culminou no assassinato do presidente, democraticamente eleito, Salvador Allende.

O resto da história já é do conhecimento de todos. O Chile viveu uma ditadura cruel, das mais selvagens da história, que contou com requintes de selvageria, como o massacre de milhares de oposicionistas do regime num estádio de futebol.


Sendo assim, quando os caminhoneiros do Brasil realizam uma paralisação em diversos estados é preciso separar o joio do trigo, a necessidade do golpismo, a luta política democrática do mero golpismo.

Se as entidades de classe acolheram a proposta apresentada pelo governo, por que algumas cidades ainda sofrem com a paralisação e bloqueio de rodovias? Quem ganha com o caos?

Com certeza, não são os caminhoneiros, que terão uma lei que garante uma série de direitos trabalhistas sancionada na íntegra pela presidenta Dilma Rousseff, além da isenção do pedágio para caminhões vazios e o congelamento do preço do diesel por um período mínimo de seis meses, dentre outras vantagens.



Há uma imensa contradição entre a agenda dos trabalhadores rodoviários, que hoje são submetidos a jornadas humilhantes, com garantias mínimas, ou forçados a falsificar contratos de terceirização dos serviços, e o das empresas de transporte, ou ainda do grande agronegócio, que se aproveitam da fragilidade legal do trabalho da categoria para impor um regime quase escravagista e baixos valores de fretes.

Assim, muitos dos trabalhadores que hoje fazem figuração no movimento paredista são vítimas da ação deliberada do grupo dominante, e sem a menor compreensão do processo político e social defendem a agenda dos seus maiores inimigos, que são os grandes empresários do agronegócio e das grandes empresas de transporte.



Isso não é greve, e sim locaute, ou lockout, para utilizar a expressão britânica. Trata-se de uma prática proibida pela legislação brasileira, exercitada pelos empregadores, que têm por objetivo frustrar ou dificultar o atendimento de reivindicações dos empregados.



No locaute impede-se o acesso dos trabalhadores aos meios de trabalho, ou simplesmente é suspendido o direito ao trabalho através do uso desproporcional da força econômica. O resultado buscado pelos dirigentes dos locautes é sempre o enfraquecimento da pauta da classe trabalhadora organizada para impor um regime de interesse do capital. Não é por acaso que figuras desconhecidas, surgem, do nada, como líderes, normalmente “laranjas” muito bem pagos pelos interessados nos resultados do movimento contrarreivindicatório.

Nenhuma das lideranças que sentou na mesa de negociações com o governo reconhece Ivar Schmidt do Comando Nacional do Transporte, responsável por esta paralisação que está sendo denunciada pelos próprios caminhoneiros. Coincidentemente Ivar Schimidt tem recebido um amplo espaço na Globo e Veja. De acordo com o jornalista João Maneco, Ivar sequer é caminhoneiro.

Não são os trabalhadores que lideram essa organização paredista, mas aqueles que se usufruem da exploração de milhares de trabalhadores que atuam no segmento do transporte. Não há uma greve legítima, esta terminou na quarta-feira (25), na reunião entre o movimento dos caminhoneiros e o ministro Miguel Rosseto. Temos, isto sim, um locaute, medida absolutamente ilegal.

Via:
- Sandro Ari Andrade de Miranda em Rede Brasil Atual
- Maria Frô em Carta Maior
Independência Sul Americana
Sul 21

domingo, 1 de fevereiro de 2015

House of Cards e a política brasileira




Em entrevista ao repórter Raimundo Costa (Valor Econômico, 23/01/2015, EU&FDS, p.6), Eduardo Cunha, o mais proeminente líder do PMDB na Câmara dos Deputados e candidato à disputa pela Presidência da Casa, reagiu abespinhado quando comparado a Frank Underwood, protagonista da série televisiva norte-americana House of Cards (uma lição de ciência política que dispensa a maioria dos cursos de graduação oferecidos pelas universidades brasileiras): “Eu acho isso [a comparação] um absurdo. Eu vi essa série. Existem três diferenças clássicas, ali: o cara é um assassino, o cara é um corrupto e o cara ainda é um homossexual. Não dá para eu aceitar essa comparação. É ofensiva”.

Tem razão o deputado, ele não é o Frank Underwood brasileiro, e ninguém o é, posto que se trata, o personagem, de uma caricatura mediana do político de sucesso dos EUA. Frank é aquele que no Parlamento se levanta do que aqui chamamos de ‘baixo-clero’ e chega às culminâncias do poder. Caricatura e mosaico, pois é um cadinho de defeitos ressaltados para a mais didática compreensão e denúncia. Uma denúncia que vale como um documentário de Michael Moore, ou uma avant-première do filme “Abutre” (presentemente nas telas brasileiras), que mostra a que pode levar a associação de um freelancer sem escrúpulos com um canal de tevê capaz de tudo… pela audiência. É verdade, de igual modo, que tanto o assaltante que se torna repórter quanto a editora de telejornalismo que a ele se associa são a versão exasperada de um jornalismo sem limites. Também são caricaturas, mosaico e síntese dos muitos defeitos de um veículo sem código de ética, à mercê da receita de publicidade que jorra em função da audiência, atraída e cevada por manchetes e escândalos, pelo grotesco e pelo escatológico.

O argumento da série, volto para House of Cards, olha para os EUA, mas retrata também – sem que disso tenham consciência os autores — a vida política brasileira com a precisão de uma fotografia sem retoques. Mas vai além, e aqui reside seu grande mérito. Retrata os subterrâneos da Casa Branca e do Congresso e invade os intestinos do Poder, onde se mesclam e se entrelaçam a corrupção, o tráfico de influência, a aliança promíscua entre a política e os meios de comunicação – agentes e objeto conscientes de manipulação –, as perigosas relações fonte-repórter, a busca abjeta pela informação, o vale tudo em que tudo é permitido, a prostituição inclusive. Revela o processo de construção e desconstituição de lideranças partidárias, com o concurso de jornais e canais de televisão mobilizados por repórteres em paranóica luta pela ascensão na carreira, e revela, principalmente, a articulação da realpolitik – poder econômico, meios de comunicação (e seus anunciantes), ONGs e ‘entidades beneficentes’, lideranças parlamentares e políticos influentes de um modo geral, a ação ostensiva de lobbies sem limites éticos ou escrúpulos – nas salas e ante-salas do Capitólio e da Casa Branca. E nas alcovas. Toda essa gente, ou seja, o jogo de interesses por ela representado, tem acesso ao ‘Salão Oval’ e influencia o exercício da Presidência da maior potência econômico-militar do mundo, inclusive em suas decisões estratégicas, como a guerra e a paz.

O personagem Frank Underwood – uma ficção, lembremos – simboliza o político de sucesso que, de golpe em golpe de astúcia, livre de qualquer respeito humano ou considerações éticas, caminha em linha ininterruptamente ascendente de sua pequena província sulista até Washington, o Capitólio e a Casa Branca. Seu leit motif é a ambição sem limites. Os meios são o ardil, a astúcia, a matreirice, a conjuração, a dedicação integral às maquinações políticas, a perseverança na busca de seus objetivos pessoais. E um tanto de ousadia e crueldade. O assassinato, o perjúrio, o adultério, a traição são apenas meios que se justificam por estarem a serviço de uma causa legitimadora: o poder. A que preço? Ora, isso não entra em consideração, pois a política, essa política, tem sua própria ética.

Dirigindo-se ao olho-câmera do espectador, ele nos diz: “O caminho para o poder [sua obsessão] é coberto de hipocrisia e crime. Mas não de arrependimento.”

É evidente que esses traços de caráter, que incluem o cinismo, não estão presentes, ao mesmo tempo, em um só político, nem muito menos se diz que todo político, nos EUA ou no Brasil, seja um êmulo de Underwood. Menos ainda que toda mulher se identifica com Claire, sua fria companheira e sócia em todos os empreendimentos e farsas e maquinações. Diz-se que essas deformações de caráter, em doses variadas para cada ente, estão presentes na vida política contemporânea, vivos entre executivos, líderes partidários, jornalistas e empresários.

O que ocorre é que Eduardo Cunha– tanto quanto Renan Calheiros-, representa a média de seus pares.



Gostemos ou não de admiti-lo, Cunha é uma perfeita tradução do Parlamento que aí está, eleito por nós nas condições conhecidas. Não é um acidente, não é um peixe fora d’água (como de certa forma era Severino, um incidente ‘fora da curva’), mas, ao contrário, um bem-acabado produto do meio, sob mais de um aspecto, incluído o modus operandi. “Empresário da política”, como o colega Chico Alencar o definiu, Cunha apenas domina muito bem artes que outros manejam com menor destreza. Com todo o devido respeito por Luisa Erundina, Alessandro Molon, o citado Chico, Glauber Braga e outros tantos: Eduardo Cunha é a cara da maioria.

Os critérios jornalísticos do canal de televisão de Los Angeles, onde se desenvolve a trama de “Abutre” são uma anomalia que a crítica cinematográfica magnifica para melhor denunciar. Sabemos, por exemplo, que nenhum canal brasileiro explora tão intensamente o grotesco, mas sabemos que ele não está ausente de nossas telas. Uma vez mais, trata-se de um mosaico dos muitos defeitos e deslizes éticos que acompanham a televisão em quase todo o mundo.

Assim entre nós. São as regras do jogo, as regras da sociedade de consumo, que entronizou no altar de suas adorações o deus-capital, o deus-lucro, o deus-sucesso. Sociedade que construiu sua própria moral, apartada da moral que pesa sobre o homem comum. A moral que põe na cadeia como vagabundo o trabalhador desempregado, proíbe ao mesmo tempo o pobre e o rico de dormir ao relento e roubar um naco de pão (a sentença, sabe-se, é de Anatole France), mas trata a sonegação de impostos, direito dos poderosos, como um procedimento perfeitamente coerente com as regras do jogo capitalista. Regras como a corrupção ativa, cujo alvo pode ser desde o guarda de trânsito, o diretor da grande empresa ou o alto funcionário público, que precisa ser subornado para que a concorrência cartelizada seja ganha pela empresa previamente eleita no jogo de seus pares. As sobras do superfaturamento seguem para paraísos fiscais, onde alimentam contas insondáveis, depois de aqui financiar eleições, em todos os níveis. São as contribuições declaradas e as contribuições não-declaradas, todas ausentes do Imposto de Renda e das prestações de contas dos candidatos, porque agasalhadas em ‘receitas não contabilizadas’, eufemismo para nomear o caixa dois.

E eis assim exposta a raiz de tudo.

A propósito, no escândalo da ‘operação Lava Jato’, a cena está repleta de empresários e executivos, enlaçados com políticos dos mais diversos coturnos em uma vasta gama de crimes, ainda em apuração.
É o réquiem da grande Política de que nos fala Gramsci. Não mais utopia ou sonho. Não mais D. Quixote. Só Sanchos Panças matreiros, descasados da inocência.

De fato, não há inocentes nem ingênuos nessa política. Na política que está mais para o oportunismo do escudeiro simplório e pedestre do que para a fantasia do cavaleiro anacrônico, o valor é determinado pela equação custo-benefício e a ação é condicionada pelo império das circunstâncias, que tudo absolve e justifica, inclusive a orfandade de princípios.

Absolve quando se trata do vencedor.

Vê-se o fazer político dominado por uma práxis que consagra o poder pelo poder, como meio e como fim. Não se diz que os fins justificam os meios: simplesmente os meios se transformam em um fim.

Toda vez que o político cede ao pragmatismo e reduz seus projetos ao interesse ou à ambição pessoal, toda vez que encerra a política nos limites do curto prazo, toda vez que abandona a esperança de fazer o bem público, a política se reduz a um negócio, a uma traficância, a uma fraude. Porque a política não é, apenas, uma racionalização menor, oportunismo, a busca de resultados práticos e imediatos. Precisa ser a busca do bem público.

Quando vence a realpolitik, a política se transforma em sua contrafação.

Via ramaral.org.br

domingo, 25 de janeiro de 2015

O lado oculto da crise de água é revelador


Não sou contra se economizar água e energia elétrica. Mas os políticos não são pagos pra criar campanhas de economia. A sociedade civil pode fazer isso. Políticos são eleitos pra prover (e prever) as necessidades de aguá e energia. Aquedutos são uma das justificativas mais antigas para a necessidade de um governo, talvez mais antiga que a gestão da violência.



Tanto quanto vender ações de empresas que desfrutam do monopólio sobre a água, creditar ao cidadão privado a gestão da crise hídrica, inclusive precificando o consumo abusivo, é uma forma de privatização. Na medida em que o governo privatiza a gestão hídrica volta a pergunta: Pra que governo?

É preciso lembrar o tempo todo que Sabesp (SP) e Copasa (MG) são empresas com ações na Bolsa, e que pagam bons dividendos.. A ineficiência não é um traço do setor publico, mas do monopólio combinado com falta de fiscalização.

Alguns números que tenho visto pela internet. Dizem que as Companhias de água desperdiçam entre 30 e 40 por cento da água que distribuem. Dizem também que o consumo humano não chega a 15% da água ofertada. Que a maior parte se destina ao agronegócio, a mineração e as industrias.

Minas Gerais concedeu OUTORGAS para mineradoras, indústrias, agronegócios retirarem água subterrânea, rios e lagos, pela qual pagam apenas preço SIMBÓLICO, ou nem pagam. MAS omite-se esta enorme quantidade de água quando falam de exigir queda de 30% do consumo, multas, racionamento. Dois pesos e duas medidas. Chegou a hora de rever as OUTORGAS E COBRAR realmente o preço justo por esta água usada para fins econômicos.

(via Seja Dita Verdade

Façam as contas. É preciso ser tapado para engolir a SECO a ideia de que a culpa da falta d'água é da sua pia da cozinha. Ou que a solução virá se cobrando mais caro pela água potável. Nada mais patético que gente que fica na internet alegando que deixar restos de detergente no prato ao lava-lo é prova de civilização, e que isso vai salvar o mundo. É prova apenas de que algumas pessoas são tão bobas que invejam até as carências europeias.

Há duas questões importantes e urgentes. Garantir a distribuição justa de aguá para todos e evitar que transformem a água no Brasil em mais um produto de qualidade e disponibilidade reguladas pelo mercado e pela renda pessoal do consumidor. Certas empresas e os governos vão usar a emergência que eles mesmos provocaram para adotar medidas impopulares e alienadoras dos interesses públicos, e ainda vai ter idiota batendo palma.

Lembrem-se essa crise hídrica era prevista por alguns a pelo menos 10 anos, e era tida como inevitável por muitos a mais de um ano. Muita coisa podia ter sido feita para ameniza-la, mas nada foi feito.

Os políticos que permitiram que a qualidade de vida e a economia do sudeste fossem afetadas de forma tão aguda deviam ser severamente responsabilizados. Ou agiram de forma intencional e portanto corrupta, ou foram inábeis e portanto incapazes e prejudiciais.

Via Rodrigo MudestoApolo Heringer-Lisboa

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

POLÍTICA ZORRA TOTAL: Partido dos Trabalhadores OPTOU, Kátia Abreu AGRADECE!


Hoje o Partido dos Trabalhadores atravessou mais um rubicão no que sobrava de dignidade à esquerda dentro do Partido. Em sua página nacional oficial fez uma postagem rasgando loas à neocompanheira Ministra da Agricultura, a famigerada latifundiária Kátia Abreu (PMDB), também conhecida como Rainha da Motosserra ou A Exterminadora do Futuro (Indígena e Quilombola)!



Nós sentimos muitíssimo pelos Companheiros e Companheiras da Esquerda Verdadeira do Partido, que dentro dele ainda insistem em tentar empurrá-lo de alguma maneira (hipotética?) para a esquerda...

Hoje, mais uma vez, choram lá no céu Mário Pedrosa, Chico Mendes, Henfil, Carlito Maia (autor do célebre slogan oPTei) e tantos outros petistas históricos que, nalgum momento, fizeram dignamente parte do Projeto Original deste Partido: HOJE tragicamente comandado por um Campo Majoritário direitista, reacionário, fisiologista, despudorado e governista ao extremo, que só cultiva exclusivamente o seu projeto pessoal do Poder-pelo-Poder.

(Via Mães de Maio) #Claque #KKK